Há pessoas que nos falam e nem as escutamos, há pessoas que nos ferem e nem cicatrizes deixam mas há pessoas que simplesmente aparecem em nossas vidas e nos marcam para sempre.
Na verdade, o título de hoje foi mais um chamariz. Hoje estava pesquisando as estatísticas no meu blog e fiquei pasma ao me deparar que uma postagem intitulada "Homens...Embarquem Nessa:Gravatas Slim,Fit,Skinny,Retrô" foi a que mais teve leitores desde que o blog nasceu. Achei que o título homens..foi o chamariz, por isso inicio assim nossa conversa de hoje. Como sempre, vou contar uma historinha para dizer o que ando pensando nessa semana de tumultos internacionais envolvendo os americanos e o islamismo. Quando estudei nos Estados Unidos, frequentei, durante as férias de verão, um College famoso em Chicago pela excelência do seu curso de ESL (English as Second Language, ou inglês como segunda língua). As universidades aconselhavam seus alunos a frequentar o famoso curso por causa do excelente professor, Mr. Ryan,que era sensacional e ministrava aulas de cultura geral. No primeiro dia de aula, quando os alunos se apresentavam, dizendo seu nome e nacionalidade, de cara atrai um fã, que se revelou no intervalo. O nome já diz tudo: Adel Omar Sherif. O sorriso brejeiro, a gentileza e o jeito bonachão também me atraíram, e ele se tornou o meu melhor amigo. O fato de morarmos perto facilitou o estreitamento dos laços de amizade. Adel estava fazendo seu doutorado em Direitos Humanos na DePaul University. Seu pai era Ministro da Justiça do Egito, sua irmã Procuradora, seu irmão Professor Titular da Faculdade de Direito da Universidade do Cairo. Convivemos como queridos amigos por quase dois anos. Muitas vezes, nos finais de semana, estudávamos juntos – ele as suas matérias, e eu as minhas. Morar sozinha no exterior não é fácil, e as amizades conquistadas se tornam fortes e para sempre. Eu amava ler os cases que ele trabalhava, envolvendo sempre assuntos dificílimos, pois no Egito, é praticada a Lei Sharia, que é o nome que se dá ao código de leis do islamismo. Em várias sociedades islâmicas, ao contrário da maioria das sociedades ocidentais dos nossos tempos, não há separação entre a religião e o direito, todas as leis sendo religiosas e baseadas ou nas escrituras sagradas ou nas opiniões de líderes religiosos. Óbviamente sempre envolvia os direitos de familia e das mulheres, trabalhos sobre as veladuras que cercam o mundo feminino na cultura islâmica. A verdade, pelo que pude apreender, que o pior sempre acontece nas camadas mais baixas da sociedade, que são dominadas pelos religiosos, que exigem que as familias sigam o antigo Alcorão de forma fundamentalista em troca de escolas, comida e roupas para o povo. O Egito na década de 50 era um país aberto, culto, com uma importante indústria cinematográfica, uma sociedade que sofria influência da França e Inglaterra, onde a religião islâmica era praticada de forma normal, sem os radicalismos de hoje. Enfim, voltando à Chicago, todos ficavam preocupadíssimos comigo, achando que eu poderia me envolver com aquele rapaz muçulmano, mas isso era definitivo - nos respeitávamos como amigos. Naquela época um filme com a atriz Sally Fields fez muito sucesso, onde a personagem era casada com um médico Iraniano que estudava nos Estados Unidos, que quando volta para seu país – com ela e com o filho- transforma-se em um tirano fanático. Ela consegue fugir com o filho de volta para os Estados Unidos, finalmente, para felicidade de todos. Acredito que nós brasileiros, àquela época, não sabíamos muito bem o que acontecia nos países árabes, e o filme foi o primeiro de inúmeros outros que mostravam a sociedade muçulmana. Aquele mundo era muito distante, e, portanto, fora do foco de nosso interesse. Eu era muito preconceituosa, achava tudo aquilo que lia nos livros do Adel um horror, e ele tentava me convencer que não era nada daquilo, que ele vivia numa sociedade harmônica, desenvolvida e maravilhosa, e que todas as barbaridades que falavam eram intrigas da oposição=EUA. Em outro verão, ainda morando em Chicago, passei 20 dias no Cairo. Fiquei hospedada no Club Mediterranée, que era um oásis no meio daquele calor de 40º, em uma cidade com um transito caótico, sem nenhum planejamento urbanístico. O hotel ficava dentro de um jardim murado lindíssimo, e funcionava em um antigo palácio, onde fiquei meio isolada da realidade do país. Foram dias ótimos. Todos os dias eu entrava em um ônibus de turismo, junto à dezenas de franceses, ávidos, assim como eu, para conhecer aquela civilização que teve seu apogeu há cinco mil anos atrás. Voltei para os Estados Unidos encantada com a humildade e educação do povo, com o deserto e com as pirâmides, e com a certeza que gente é igual em qualquer lugar do mundo. O meu amigo Adel hoje é Ministro da Suprema Corte do Egito, equivalente ao nosso Supremo Tribunal Federal, e um dos maiores estudiosos, sendo mundialmente respeitado em Direitos Humanos, e ainda somos amigos. Voltamos agora ao que me levou relembrar minha viagem ao Cairo. Eu acho espantoso em pleno século XXI acontecer o que está acontecendo em todos os países islâmicos, onde cresce a violência contra as embaixadas americanas. O filme que gerou toda essa onda crescente contra os americanos, resultando na morte de um Embaixador, é uma bobagem que deveria ter sido tratado com tal. Quem nunca assistiu o desenho animado South Park, onde os personagens literalmente desculpem a horrível palavra, sacaneiam todas as religiões? E aquele filme polêmico quando foi lançado, Je vous Salue Marie, do renomado diretor Jean-Luc Godard, que nos oferece sua versão para a concepção da Virgem. Um filme forte, polêmico e interrogativo, que revoltou a Igreja Católica à época. Não me lembro de nenhum católico queimando embaixadas francesas após o lançamento do filme. Há um tempo atrás li sobre uma exposição aqui em Brasília que um artista inglês Shezad Dawood, filho de paquistaneses, cometeu uma ousadia ao fazer variações em néon com os nomes atribuídos a Alah.Eles podem fazer ousadias com o seu Alah. Os outros não? Como aceitar a violência islâmica, motivados pela raiva aos Estados Unidos, quando o homem caminha para uma era cada dia mais cibernética, com avanços tecnológicos que nos levam à Lua? O que pensar? Será que aquele povo, que conheci um dia, realmente pensa assim, quer isso? Difícil de acreditar e aceitar em tamanha ignorância e atraso, mas infelizmente a crescente população islâmica parece cada dia mais enfurecida contra os inimigos Ianques.
Triste. Homens...Dificil de Entender.
eu no Cairo, nas férias de verão de 1993